Fiz uma consulta telefónica a um desses médicos que não consultam a gente, só olham para a cremalheira e arrancam dentes.

Fiquei indeciso e não sei se isto que tenho na zona cotoveleira é ferrugem ou caruncho. Quando mexo o cotovelo, sinto estalinhos por falta de humidade gordurosa nos nervos da barbata braçal.

Tenho constatado que as dores insepulcráveis da cotoveleira e do aparelho muscular e esquelético são difíceis de suportar.

Por outro lado, o meu capacete tem andado a ferver e por vezes até fico com ele húmido e a trabalhar deficientemente, mas pelo menos não voltei a cair duma burra alada, nem tive nenhum ataque cardeal.

Parte do meu problema é resultante da desfalsificação ossal e da intendência para o pouco cálcio se acumular nas fracturas comunitivas.

Estou desconfiado que qualquer dia destes, ainda arranjo uma hérnia de escala ou uma pedra na basílica, causados pelos anti-inflamagórios que me deixam um pouco tonho.

Diz lá no papelame que a medicamentose pode trazer muitas complicações e alienações, bem como proporcionar abéticos no sangue.

Gosto bastante do meu outro Senhor Doutor que é especialista em ossadas. Agrada-me de sobremaneira quando ele vai de férias e me deixa entregue á bicharada hospitalar do Serviço Nacional de (pouca) Saúde! Ele disse-me logo o que tinha a dizer e não andou a engasular ninguém. Fiquei logo descansado por saber que se surgisse algum problema nos entretantos, estaria fecundado, pois nenhum médico do hospital se interessaria em resolver o problema!
Sou o doente preferido deste médico e não há melhor doente que eu! Faço tudo o que ele me ordena, como ... aquela coisa de tentar manter os membros que me fazem alguma falta.

Um passito curto de cada vez ,,,




Ritual Tejo - Nascer outra vez

Extreme ciganagem

Um tipo chega à conclusão que esteve/está á demasiado tempo inactivo quando ... passou a ir com regularidade a uma feira (onde nunca fora) e constata que já viu praticamente todos os filmes piratas que o seu novo amigo "Lelo" tinha disponíveis.

Outro sinal da constatação da doença prolongada, residiu no facto do amigo "Lelo" ter passado a tratar-me pelo nome próprio e nunca (jamais) me vender filmes de qualidade muito má ... apenas vendeu filmes de qualidade mais ou menos "Chunga-Top-Extreme-Ciganagem".

O sinal mais gritante e que me levou a considerar abandonar a vida de desocupado permanente, foi ao descobrir que o "Lelo" sabia todas as minhas preferências e passou a guardar-me uma selecção especial de filmes.

Logo que abandonei o grupo dos portadores de incapacidade temporária para o trabalho, deixei de ser cliente assíduo do "Lelo". Ele ficou triste e decepcionado com este otário (ex-cliente VIP) que optou por regressar ao trabalho (mesmo estando de baixa a receber 65% do ordenado pela Segurança Social e 35% pela entidade patronal) por vontade própria, mesmo com o cotovelo estragado.

Se fosse ele (o Lelo)... Ficaria de baixa até conseguir arranjar uma fístula na virilha ou até o sofá criar bicho, de tantas horas que passaria a ver filmes piratas e a mamar “jolas”.

Este foi o último filme de qualidade duvidosa que o "Lelo" me impingiu. Já tinha ido ver ao cinema e achei genial!




Era complicado encarar o rumo que a minha vida estava a tomar e afastei todos ao meu redor por ter caído no buraco que eu tinha cavado. Fui perdendo todas as pessoas que se importavam e nutriam real sentimento por mim. Foi fácil afastar todos os que tentaram apontar e avisar que algo estava errado comigo.

Tive um acidente grave! Coitadinho de mim! Sou tão incompreendido!

Tive que (por conta própria) buscar uma saída. O mais humilhante foi perceber que o brilho no olhar dera lugar a um sujeito sem foco, apenas uma sombra negra daquilo em que me tornara.

E ... lá encontrei um foco … despoletado pelo carinho, consideração e amor que tinha rejeitado receber. Eram pegadas luminosas a mostrarem-me a direcção certa para transformar aquela situação adversa em aprendizagem.

A maior ironia de optar por este caminho sem foco, foi ter pisado muita gente na ida, mas voltar a encontrar muitos deles na volta. Fui generosamente impelido a vislumbrar, que a ausência de luz no fim do túnel seria apenas a minha própria escuridão.

Isto aconteceu num passado bastante longínquo, mas que subsiste como uma memória (demasiado presente) que me ajuda a encontrar algum equilibrio.
Embora possa ver a sombra negra ao meu lado, nunca a desprezo totalmente. Depois de enfrentá-la, aceitei-a como parte de mim. A minha sombra passou de inimiga a aliada. Paneleirices da globalização das sombras causado pelo aquecimento global ... digo eu! :-)

3, 4, 2

A ordem homologada na sucessão de eventos traumáticos é:

1) negação
2) raiva
3) tristeza
4) aceitação

Tive de imediato o 3 e o 4, supostamente os últimos na sucessão dos eventos. Já o 2 aconteceu e acontece em espasmos intermitentes. Quanto ao 1, a primeira de todas, nunca aconteceu.

Não há duas sem três operações


Após o episódio que me levou às urgências, onde me foi diagnosticado que os ossos do cotovelo teriam cedido, fui a uma consulta com o médico que me acompanha. Saí de lá com uma cirurgia agendada para Setembro.

Vou tentar evitar esta terceira intervenção cirúrgica, mesmo que a probabilidade de isso acontecer ser demasiado reduzida.
A situação não é nada brilhante, mas é infinitamente melhor do que há 3 meses atrás. Aquando do acidente, não seccionei uma artéria por muito pouco, o que levaria a paralisia do braço. Safei-me duma infecção grave que poderia ter levado a uma amputação do membro. Das múltiplas fracturas existentes na zona do cotovelo, apenas persiste uma delas, com dificuldade em consolidar.
Não tenho vivido num mundo perfeito e isento de dor. O sofrimento físico e psicológico tem sido considerável. De qualquer forma, voltei a conseguir arejar as ideias e a encontrar alguma normalidade na minha vida.
Já soube voar, já soube sonhar, mas ultimamente apenas sei lutar...


Copyright 2008 | Paulo Reis