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QUASE

Um pouco mais de sol — eu era brasa.
Um pouco mais de azul — eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Assombro ou paz? Em vão... Tudo esvaído
Num baixo mar enganador d'espuma;
E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho — ó dor! — quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim — quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
— Ai a dor de ser-quase, dor sem fim... —
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol — vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

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Um pouco mais de sol — e fora brasa,
Um pouco mais de azul — e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...
Se ao menos eu permanecesse aquém...

Mario de Sá-Carneiro: QUASE
(Paris, 13 de maio de 1913)

What if ... I am finding a new way?

Well if you want to sing out, sing out
And if you want to be free, be free
'Cause there's a million things to be
You know that there are

And if you want to live high, live high
And if you want to live low, live low
'Cause there's a million ways to go
You know that there are

Well if you want to say yes, say yes
And if you want to say no, say no
'Cause there's a million ways to go
You know that there are

And if you want to be me, be me
And if you want to be you, be you
'Cause there's a million things to do
You know that there are

You can do what you want
The opportunity's on
And if you find a new way
You can do it today
You can make it all true
And you can make it undo
You see, ah ah ah
It's easy, ah ah ah
You only need to know






Cat Stevens - If you want to sing out

All these things have you said...

All these things have you said of beauty.
Yet in truth you spoke not of her but of needs unsatisfied,
And beauty is not a need but an ecstasy.
It is not a mouth thirsting nor an empty hand stretched forth,
But rather a heart enflamed and a soul enchanted. It is not the image you would see nor the song you would hear,
But rather an image you see though you close your eyes and a song you hear though you shut your ears.
It is not the sap within the furrowed bark, nor a wing attached to a claw,
But rather a garden for ever in bloom and a flock of angels for ever in flight.
Beauty is life when life unveils her holy face.
But you are life and you are the veil.
Beauty is eternity gazing at itself in a mirror.
But you are eternity and you are the mirror.

Kahlil Gibran

O voo

Goza a euforia do voo do anjo perdido em ti.

Não indagues se nessas estradas,
tempo e vento desabam no abismo.
Que sabes tu do fim?
Se temes que teu mistério seja uma noite,
enche-o de estrelas.
Conserva a ilusão de que teu voo
te leva sempre para o mais alto.
No deslumbramento da ascensão
se pressentires que amanhã estarás mudo,
esgota, como um pássaro, as canções que tens na garganta.
Canta. Canta para conservar uma ilusão de festa e de vitória.
Talvez as canções adormeçam as feras
que esperam devorar o pássaro.
Desde que nasceste não és mais que um voo no tempo.
Rumo ao céu? Que importa a rota?
Voa e canta enquanto lhe resistirem as asas.


Menotti Del Picchia

Poema ao acaso

Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido;
na verdade, bem poucas pessoas me levariam a sério.

Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria em mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui,
tomaria mais sorvetes e menos lentilhas,
teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu
sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver,
trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feito a vida:
só de momentos - não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma
sem um termometro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e um páraquedas;
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou a morrer.

Autor desconhecido

Voo Livre

Preciso ser livre.
Preciso voar.
Sentir os meus passos.
Seguir os meus caminhos.
Carregar os meus erros.
Aguentar os meus fracassos.

Já basta ser escravo das palavras,
ser preso às paixões.
Tenho que me libertar dos antigos valores,

suprir a necessidade do azul.
Preciso...
Necessito para poder sobreviver.
Tenho o dever de me conhecer.
Tenho o dever de viver a minha vida,
o dever de conhecer todas as estradas,
lutar por aquilo que eu quero.
Preciso ser livre.

Uma palavra não diz nada

Uma palavra não diz nada
e ao mesmo tempo esconde tudo
Igual ao vento que esconde a água
Como as flores que escondem o lodo

Um olhar não diz nada
E ao mesmo tempo diz tudo
Como a chuva sobre tua cara
Ao ver um mapa de algum tesouro

Uma verdade não diz nada
E ao mesmo tempo esconde tudo
Como uma fogueira que não se apaga
Como uma pedra que nasce aos poucos

Se um dia me faltares não serei nada
E ao mesmo tempo serei tudo
porque em teus olhos estão minhas asas
E está a onda onde me afogo.


Poema de Carlos Varela

O vento nem sempre sabe a liberdade

Quero voar mas
saem da lama
garras de chão que me

prendem os tornozelos.

Quero morrer mas

descem das nuvens
braços de angústia que me

seguram pelos cabelos.

E assim suspenso no clamor da tempestade
como um saco de problemas

tapo os olhos com as lágrimas
para não ver as algemas...

Mas qualquer balouçar ao vento

me parece Liberdade.

José Gomes Ferreira


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