Let It Go - Tim McGraw


Avós com 25 anos de idade.


UNKLE - The Answer

Os mortos são felizes

Bem-aventurados os que vão para debaixo do chão, porque vão para uma transfiguração sagrada. Mal caem sobre eles as últimas pazadas de terra e o canto dos padres, bárbaro e dolente, se perde com o fumo dos círios, o corpo fica só na plenidão da noite e do silêncio perante a grande vegetação esfomeada, ele vai dar-se ali como pasto às bocas sinistras das raízes: ele amolece entre as humidades da terra e desfaz-se em podridões: então as raízes começam a sugar e a comer: a podridão transforma-se em seiva; a seiva sobe pelos troncos, estende-se pelos ramos, palpita selvajamente dentro da árvore, engrossa, fecunda, arredonda-se nas exuberâncias dos gomos, e abre-se depois em folhagens, em florescências e em frutos: e o corpo transformado vê outra vez o sol, as grandes poeiras, e sente os orvalhos, e ouve as cantigas dos pastores, e vive sereno, repousado, na floresta imensa.

Eça de Queirós, in 'Prosas Bárbaras'

Adeus Avôzinho!

Quem diria que há menos de 48 horas atrás, estava a visitar o Coliseu de Roma e a imaginar as lutas dos gladiadores. Há menos de 48 horas estava a admirar as pinturas da Capela Sistina e a imaginar a vida daquele homem que foi dedicada àquela obra imponente. Há menos de 48 horas tive uma experiência mística nas Catacumbas de Saint Calixtus (local onde estão enterrados 450.000 cristãos alvo de perseguição por parte dos imperadores romanos). Fui utilizado por um padre cristão (http://www.burgui.net/) que simulou uma execução, exactamente como era feita pelos romanos, a todos aqueles que renegavam adoração ao imperador. Há menos de 24 horas e por um mero acaso fui ter ao museu do Leonardo da Vinci e pude ver algumas das réplicas das suas geniais máquinas voadoras, como é o caso do parquedas rectangular e da asa voadora ... "and soyon and soyon and soyon"! :-D


Como diz o padre José Miguel que me abriu novas prespectivas de entendimento sobre muita coisa (ou quase nada): "Não quero ensinar nada sobre a religião nesta visita às Catacumbas, basta apenas"...abrir os olhos e levar vivo o coração ..."

On the move (Part 2)

Milano * Lago de Como * Veneza * Florença * Sienna * Piza * Napoli * Vesuvio Vulcano * Sicilia Island * Rome. Two more days to go! ;-D

On the move ...

Visitei: Milano * Lago de Como * Veneza * Florenca

Hoje: Sienna * Pisa

Dias seguintes: Roma * Napoles e ??????


Tive duas fantasticas noites de Couch Surfing (Milano e Florenca). Foi engraçado cruzar-me (no Lago de Como) com o George Clooney que seguia a bordo dum enorme iate. Iria ter um orgasmo mental se conseguisse fazer Kitesurf no Lago de Como, mas nepia de vento. Acabei por fazer um trekking de duas horas (1000 m de desnivel) numa das enormes montanhas em volta do lago. Aprendi a pintar mascaras vevezianas de carnaval com uma bela veneziana. Em Florença, estou em casa duma Americana de Boston que me mostrou a cidade e levou a jantar num dos melhores locais da cidade.

Tenho um comboio para Sienna dentro de uma hora... Arriverdeci!

Epic and cool

I just decided (two hours ago) and I am on my way to Italy! I have plane ticket to Milano tomorrow and a return ticket from Rome on Septmber 12th. I have a small backpack, some couch surfing possibilities and no clue on how to get from point A to B. It´s gonna be epic and cool!:-D

Famel Zundap (Parte 2)

Famel Zundap

Procura-se um nome para uma bola de pelo (cão macho), com 2 meses de vida e 2 kgs de peso bruto. Os únicos nomes que me ocorrem são Famel Zundap e SS Sachs!


Dores incapacitantes

"Há doentes internados em hospitais que têm mundos dentro de si para contar mas sem alguém que os oiça. São rotulados de doentes mentais e abandonados aos fármacos potentes ou aos irrevogáveis silêncios institucionais!"

Hoje, li esta frase e lembrei-me do meu amigo Zé Maria.

Acabado de ficar internado num quarto de hospital após um acidente, fui avisado da eventual chegada dum novo companheiro de quarto. Alertaram-me que teria de conviver com um possível doente mental, que estaria a ser mudado de outra enfermaria pois tornara-se absolutamente insuportável para os restantes doentes.

O Zé Maria tinha 88 anos e uma perna partida. Todos (incluindo a família) pensavam que ele sofria de algum tipo de doença mental. Passei noites terríveis na companhia do Zé Maria. A minha sanidade mental ficou abalada com a convivência. A pouca comunicação que conseguíamos ter, era ensombrada pelas noites de intensos monólogos e gritos a alta voz. A conversa do Zé Maria era sempre igual e apresentava sempre os mesmos três intervenientes. A voz dele mudava, consoante o interveniente que entrava em cena. Tudo era repetido numa espécie de “loop” continuo até á exaustão.

Num certo dia, assisti á mudança do penso do Zé Maria e fiquei enojado. Tinha uma infecção enorme, cheirava a carne putrefacta e os ossos estavam partidos e expostos. Perguntei aos enfermeiros se aquilo era normal, ao que eles responderam que não era, mas que a amputação seria o desfecho mais provável.

Não conseguia parar de Imaginar as dores a que estaria sujeito o pobre do Zé Maria. Tentei saber o que se tinha passado com ele. Os familiares contaram-me, que ele tinha caído no lar (onde estava alojado) e partira a perna. Estava ali á espera que algum médico se interessasse pelo seu caso e o operasse.

Nessa noite não consegui dormir a pensar na minha dor pós-operatória e no quanto ela seria insignificante, quando comparada com o pesadelo constante daquele homem.

Passei a noite a pedir analgésicos e comprimidos para dormir para ele. Finalmente conseguimos (ambos) dormir ao terceiro dia. Na manhã seguinte descobri um novo Zé Maria. Aquilo que parecia demência, tornou-se claro (para mim) que poderia ser causado por uma dor inexplicável e incapacitante que despertava os seus fantasmas.

Nas noites seguintes, voltei a pedir que lhe dessem os analgésicos e comprimidos para dormir. Ao longo dos dias seguintes, o Zé Maria começou a ter momentos de extrema lucidez, onde me contou algumas histórias acerca da sua vida, mas eram as noites que despertavam os fantasmas.

Sempre que lhe perguntava acerca das dores, a resposta era sempre a mesma: As dores são minhas!

Nunca o vi queixar-se a ninguém das suas dores e fui-me apercebendo que os seus diálogos solitários eram também a sua forma de extravasar a dor.

Numa certa noite, entendi algo que não era perceptível a ninguém! Tentei perceber a conversa do Zé Maria e foi-se tornando claro, que “aquilo” era a descrição pormenorizada e detalhada do seu acidente, que estava demasiado vivo na sua memória. O Zé Maria vivia preso na sua dor e era perseguido pela lembrança do sucedido. Consegui que os enfermeiros percebessem o que se passava e se interessassem pela situação do Zé Maria.

Dias mais tarde ele foi levado para ser operado. Calculei que lhe iriam amputar a perna ou que dificilmente resistiria á cirurgia. Perdi o rasto do Zé Maria por uns dias, pois tive alta hospitalar nesse mesmo dia. Três dias depois, voltei ao hospital para tratamentos e fui procurar o meu amigo Zé Maria.

Esperava encontrar um farrapo humano com um membro amputado. Encontrei um homem idoso, desperto, a comer com gosto e a sorrir sem dentes. Ele perguntou-me se eu estava melhor? Sorri e respondi afirmativamente.

Perguntei-lhe se tinha dores e a resposta era a de sempre, só que desta vez esboçava um sorriso enorme. Os enfermeiros disseram-me que médicos salvaram-lhe a perna e ele iria recuperar totalmente e voltar a andar.

"Há doentes internados em hospitais que têm mundos dentro de si para contar mas sem alguém que os oiça. São rotulados de doentes mentais e abandonados aos fármacos potentes ou aos irrevogáveis silêncios institucionais!"


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