Perdi a minha chance de ir ao Natal dos Hospitais.

Obtive alta médica e fui removido das listas de espera para cirurgias do Sistema Nacional de Saúde!

Sinto-me orgulhoso da recuperação satisfatória, após um cenário demasiado incerto e que envolveria a programação de nova(s) cirurgia(s) evasivas e com inclusão de enxertos ósseos, placas metálicas, parafusos, etc …

Aguardam-me ainda, 3 a 4 meses de fisioterapia de forma a puder recuperar o máximo de mobilidade possível no cotovelo, mas a nuvem negra das cirurgias está afastada!

Ao fim de 3 meses longe do hospital, voltei á consulta de ortopedia e voltei a visitar o hospital onde sempre me senti estranhamente confortável. Emocionei-me ao entrar pelos portões daquele local onde vivi e presenciei tantas histórias. Um local onde as pessoas saudáveis nem querem sonhar que existe! Um local onde os médicos, enfermeiras e auxiliares de enfermagem convivem diariamente com situações de vida e de morte. Um local com uma extrema humanidade e com profissionais de saúde fantásticos. Desde os porteiros, aos seguranças, à senhora do quiosque das revistas, ao funcionário administrativo, às anestesistas, aos técnicos do raio-X, aos auxiliares de enfermagem, às senhoras da limpeza, às enfermeiras e aos médicos … sempre fui tratado com uma dignidade e amabilidade exemplares.

Passaram sete penosos meses desde o meu internamento e todos ainda se lembravam de mim. Poderia contra histórias intermináveis acerca das conversas que mantinha com os seguranças, no que toca às qualidades físicas das jovens enfermeiras. Poderia contar histórias horripilantes sobre os meus diversos companheiros de quarto. Poderia contar as lições de vida que aprendi com o meu amigo Zé Maria (88 anos) e que conseguiu salvar-se duma amputação (quase certa) da perna. Poderia voltar a falar das enfermeiras que me torturavam (com carinho) durante a mudança de pensos e com quem eu me divertia “horrores” nessa mesma sala. Poderia falar acerca da amizade do empregado administrativo e ex-parquedista (Sr. Jorge) com quem desabafava e partilhava as revistas e jornais comprados no quiosque do hospital. Poderia falar dos códigos que desenvolvi com as enfermeiras sempre que queria escapulir-me durante algumas horas e contra as regras instituídas do hospital (quando lhes dizia que ia só ali à praia ver como estavam as ondas) para ir arejar as ideias para (ao pé do pato castiço e das pombas) no jardim do hospital. Poderia contar as conversas irreais (cómico-trágicas) que mantinha com o meu querido e excepcional médico, de quem vou sentir saudades. Poderia falar da restante equipa de médicos que me acompanhou e operou e que sempre tiveram muita paciência para me aturar e tratar. Poderia falar da auxiliar de enfermagem que me atormentava durante as noites com guerras de água. Quando adormecia … “trungas” levava com um copo de água na tromba, sendo que a vingança era sempre refinada e repleta de malvadez natural. Poderia falar das senhoras que distribuíam a comida e me davam suplementos alimentares, cortavam os alimentos, sempre com uma palavra amiga e um sorriso estampado no rosto. Poderia falar das voluntárias da Cruz Vermelha Portuguesa, que disponibilazavam o seu tempo para ajudar os doentes nas tarefas básicas diárias.

Poderia falar e acabei por falar … de tantas coisas importantes e que estão gravadas na minha memória. Não vou falar muito mais; Apenas registar e agradecer a todas estas pessoas que fizeram e fazem a diferença na vida de tantos doentes, que passam pelo serviço de ortopedia do Hospital Curry Cabral de Lisboa.

Obrigado a todos!

P.S.: Nunca disse a ninguém (do hospital) que mantinha este Blog, nem sequer fiz qualquer referência (até hoje), acerca do nome do hospital onde fui tratado. Nunca referi nomes de nenhum dos agentes de saúde que lidaram comigo durante estes meses, mas o que é certo, é que um dos médicos descobriu o meu Blog e foi passando a palavra ...

Soube ontem, através duma enfermeira muito simpática, por quem desenvolvi um carinho especial não assumido devido à minha condição de doente (e que porventura vai ler isto), que os médicos, enfermeiros e demais membros da equipa do hospital, foram acompanhando as tremendas baboseiras escritas acerca do meu estado de saúde.

Se tivesse um buraco tinha-me enfiado nele com vergonha, mas depois reflecti e pensei … aquilo que escrevi foi sincero e não existem motivos para sentir vergonha!

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