Retirei este artigo dum blog de montanhismo. O artigo descreve a situação em que se encontra o meu amigo, colega de equipa e companheiro de aventuras pelo mundo dos ares. Fui visitar (ontem) o Gonçalo e ele está confiante na recuperação total, após um grave acidente de parapente. Tem um caminho longo pela frente, mas já só pensa em voltar a voar outra vez!
Sobreviver! Acidente de parapente do Gonçalo Velez
As nossas motivações de praticar desportos de aventura passam muito pela descoberta e pela aventura controlada. O risco é uma constante e muitos temos estórias em que o limite da aventura foi ultrapassado.
Esses momentos são marcantes, uns são impelidos a desistir, a calçar pantufas para não mais as tirar, outros tiram ensinamento mas regressam consciente que a vida é efémera e que temos de reforçar a atenção para continuarmos por cá.
Mas quem se aventura e passou por momentos extremos, sabe que nem tudo depende de nós, um conjunto de factores podem levar-nos à sobrevivência ou ao desconhecido.
A estória que quero contar aqui é extrema mas com fim feliz, apesar de todos os dados e inconveniências.
É uma estória que tem como protagonista o impulsionador deste blog e de um amigo. Será certamente, entre muita vivência e estórias extremas que o Gonçalo Velez deparou na sua vida de aventureiro a mais marcante. Uma estória que ainda está a viver.
O Gonçalo foi pioneiro em Portugal na exploração aos Himalaias, sendo o primeiros português a subir um oito mil (em 1991 o Annapurna com 8091m), sendo que embora sem abandonar o himalaísmo passou a dedicar-se essencialmente ao parapente.
A motivação por ambientes de montanha leva-o a procurar grandes espaços e realizar voos de grande distância, desenvolvendo competências que o impeliram a adquirir uma assa muito técnica de competição. Mas como todos sabemos para maior performance é necessário mais ligeireza, mais técnica e os erros ou variáveis tornam-se mais estreitos.
No último voo que realizou, tudo parecia estar perfeito, o dia límpido e o vento adequado. A Serra da Estrela chamava assim a mais um dia excelente para voar. A descolagem foi perfeita ao que se seguiu um conjunto de manobras para ganhar altitude, recorrendo ao auxilio de ventos ascendentes.
Mas inesperadamente, uma rajada de vento levou à instabilidade da asa, preocupado em tentar controlar a assa não se apercebeu que descia vertiginosamente, perdendo tempo e o momento que lhe permitia abrir o paraquedas de recurso. O que se sucedeu é impressionante de ver, certamente mais de sentir e de acompanhar para quem assistiu e participou no socorro.
As consequências foram graves, fracturas num braço, pulmão perfurado, colapso da bacia, hemorragias internas e externas. A probabilidade de sobrevivência parecia reduzida, mas o sistema de amortecimento e protecção, o socorro pronto e excelentes cuidados de saúde permitiram-no manter agarrado à vida. Depois seguiu-se muita perseverança, muita capacidade de luta do Gonçalo, muito trabalho dos profissionais de saúde...
O Gonçalo continua internado no hospital ortopédico na Parede, recebendo visitas durante a tarde, continua sem se poder colocar de pé, mas em breve passará a mais uma fase importante, com desenvolvimento e recuperação da mobilidade.
Um grande abraço para o Gonçalo e os desejos de uma total e rápida recuperação.
Viva a vida!
Carimbadela: Parapente