Campeonato Nacional de Parapente 2008

Estou de regresso, após mais uma época de competições de Parapente a nível nacional. Este ano participei em 4 competições bastante disputadas e duras, naquele que foi o campeonato mais disputado dos últimos anos. Sinto uma enorme satisfação por ter cumprido todos os objectivos a que me propus no inicio da época, tendo conseguido superar diversas adversidades físicas e mentais. Aprendi muito e descobri novas formas de evolução neste fascinante desporto…


Comecei a primeira prova do ano bastante mal, tendo apenas conseguido o 20º lugar na prova. Senti falta de motivação e sabia que poderia fazer muito melhor. Voei de forma agressiva, mas a certa altura vacilei mentalmente (com a possibilidade de ter de aterrar numa zona desértica e escolhi voar numa rota alternativa e segura). A opção foi péssima e não cumpri o objectivo do dia.
Neste campeonato competitivo, as falhas e a falta de regularidade afastam-nos de qualquer expectativa de atingir melhores lugares na classificação, pois o nível é alto e existem actualmente muitos bons pilotos. Após este descalabro, resignei-me a lutar apenas pelo título colectivo para a minha equipe, pois pouco poderia esperar em termos de resultados individuais.

Na competição seguinte, tudo mudou e acabei inexplicavelmente no 3º lugar do pódio. Passei de derrotado a vencedor num ápice! Aquilo que poderia parecer uma miragem impossível de alcançar, passou a ser algo atingível. Foi o meu primeiro pódio numa competição nacional e teve um sabor especial. Tive de lutar contra muitas adversidades e dores físicas resultantes dum acidente (sem consequências graves) durante uma descolagem falhada. Caí literalmente por uma ribanceira abaixo e fui atropelado por um calhau gigante que rebolou na minha direcção. Fiquei com um braço totalmente negro e dorido, mas ainda assim consegui descolar novamente. Passei o grupo que liderava a prova e encontrava-me na liderança no momento em que a prova foi cancelada (por motivos de segurança discutíveis) . Não venci nesse dia, mas consegui ser regular no dia seguinte, onde ataquei e liderei a prova, apenas sendo ultrapassado no final por alguns pilotos. Tive de voar durante vários dias com um hematoma enorme num braço que me causava limitação de movimentos, falta de força e dores brutais.

Com apenas um dia de intervalo e após uma monumental ressaca, motivada pela celebração do lugar no pódio, segui para a terceira prova do ano, numa altura em que já me encontrava no Top 10 do Campeonato Nacional. A motivação era (agora) bastante diferente e sabia que estava mentalmente forte e que tudo seria possível se recuperasse da minha lesão no braço que parecia um trambolho negro! Contudo, esta terceira prova do campeonato acabaria por ser outra enorme desilusão. A organização foi mediocre e a segurança dos pilotos foi posta em causa (por diversas vezes). No final da prova fui alvo de penalizações injustas e desci dois lugares no Campeonato Nacional em função disso. Fiquei classificado em 7º lugar, quando na realidade deveria ter ficado em 5º! Fiz diversos protestos às entidades competentes, mas as injustiças perduraram e fizeram-me pensar que não teria qualquer hipótese de continuar a lutar pelo título.

Com apenas uma semana de intervalo, teve lugar a última e derradeira semana de competição, onde tudo iria ficar decidido. As diferenças de pontuação entre os primeiros 10 pilotos era bastante reduzida. Esta competição contou com a presença de alguns dos melhores pilotos Espanhóis e alguns Franceses, que vinham decididos a lutar pelas primeiras posições, mas … os "Tugas" não deram qualquer hipotese!

Logo no primeiro dia de prova, passei para 5º lugar do Campeonato Nacional. No segundo dia de prova, voltei a cometer um erro, contudo insisti e lutei como pude para cumprir o objectivo do dia e chegar ao final da prova, ainda que com um atraso brutal para os primeiros classificados. Tinha uma vantagem confortável para os pilotos que me seguiam e desci apenas um lugar. No terceiro dia de competição voltei a ser regular e subi para 5º lugar de novo.
Faltava apenas um dia de competição e já estava definido o Campeão Nacional, mas o segundo lugar ainda era uma incógnita e qualquer um dos 10 primeiros poderia sagrar-se vice-campeão nacional. Seria uma “prova de nervos” para todos e um voo tático de controle dos adversários.

A corrida começou mal, com um acidente dum amigo e ex-colega de equipa logo no inicio da prova. Felizmente ele encontrava-se bem e comunicava pelo rádio! Nessa altura, ainda estava em terra e só descolei quando soube que ele estava realmente bem! Fiquei nervoso, atrasei-me demasiado e tive de lutar bastante par alcançar o grupo da frente. Consegui chegar perto, mas depois perdi-os novamente. A certa altura calculei que estaria virtualmente no pódio se a prova acabasse ali, mas ainda faltavam algumas horas de voo e tudo se iria alterar. Três dos pilotos que estavam à minha frente eram "cartas fora do baralho" no campeonato.

A visão do acidente do meu amigo (que estava classificado na altura em 3º lugar) fez-me pensar bastante acerca das ambições desmedidas e decidi relaxar e apenas gozar o voo sem me preocupar com os resultados. Os pilotos foram agrupando-se e trabalhámos todos em conjunto para chegar o mais longe possível, num dia de voo complicado. Juntei-me aos meus amigos (alguns adversários directos na classificação) e voámos todos juntos. Deixei de ter a necessidade de tentar vencer (o que quer que fosse) e senti-me bastante bem apenas por poder estar a voar daquela forma. Senti um misto de prazer e emoção ao ver um ex-aluno a voar comigo e a caminho de se sagrar vice-campeão nacional. Ele merecia aquele títiulo!

No final, adorei ter conseguido competir a um nível tão elevado, com todos estes excelentes pilotos. Senti uma enorme emoção (convenientemente disfarçada) de ver um ex-aluno a confirmar-se como um dos melhores pilotos nacionais, atingindo um nível que eu sempre soube que estaria ao seu alcance, desde o primeiro dia em que o conheci!
Foi uma época difícil e repleta de contratempos, incertezas e dificuldades. No começo do ano definiram-se objectivos individuais e colectivos dentro da Equipa AVLS. Definiram-se objectivos alcançáveis e objectivos sonhados! Dificilmente pensei que conseguiria atingir os objectivos a que me propus. Sinto que realizei mais um sonho "quase impossível", numa altura em que ponderava seriamente deixar as competições e dedicar-me a explorar outros horizontes. Estava convencido que a minha margem de progressão neste desporto seria cada vez mais limitada. Eis senão quando, consegui aprender coisas novas, descobri novas técnicas de voar intuitivamente, novas estratégias competitivas e novas margens de progressão para conseguir voar … tudo aquilo que sei … que serei capaz um dia ... :-)
O voo livre é apaixonante e as pessoas envolvidas neste desporto são fantásticas! Existe uma parte muito positiva e bonita na "alta competição" que se traduz na amizade que une a tribo parapentista nacional e que não tem paralelo no mundo. Tenho a nítida noção que somos um grupo de amigos que voam livremente e por prazer. No final acaba por vencer alguém e todos ficamos felizes por ele, independentemente de quem fôr. Sinto-me feliz e satisfeito por ter cumprido todos os meus objectivos ao ficar classificado em 7º lugar ( Top 10) e por ter contribuído para que o meu clube (AVLS) se sagrasse vice-campeão nacional pela segunda época consecutiva.
Com tudo isto, voltei a a sonhar “bem mais alto” e em vez de abandonar definitivamente as competições, sinto-me motivado a tentar participar em algumas provas da Taça do Mundo de Parapente! Iupi!!!!!!!!!!!!!!

Em boa verdade não sei porque é que um pássaro voa, nem quero saber. Voar já é tanto. Explicar o voo morfologicamente é reduzi-lo, é fazê-lo aterrar. O que é banal para um pássaro tem de continuar a ser maravilhoso para nós.
Miguel Esteves Cardoso


Porque me apetece viajar no tempo e porque quero sentir o vento em pleno voo, e que as pessoas olhem, observem e tomem consciência de que a glória ainda existe...
Richard Bach

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