Estou de regresso, após mais uma época de competições de Parapente a nível nacional. Este ano participei em 4 competições bastante disputadas e duras, naquele que foi o campeonato mais disputado dos últimos anos. Sinto uma enorme satisfação por ter cumprido todos os objectivos a que me propus no inicio da época, tendo conseguido superar diversas adversidades físicas e mentais. Aprendi muito e descobri novas formas de evolução neste fascinante desporto…
Comecei a primeira prova do ano bastante mal, tendo apenas conseguido o 20º lugar na prova. Senti falta de motivação e sabia que poderia fazer muito melhor. Voei de forma agressiva, mas a certa altura vacilei mentalmente (com a possibilidade de ter de aterrar numa zona desértica e escolhi voar numa rota alternativa e segura). A opção foi péssima e não cumpri o objectivo do dia.
Neste campeonato competitivo, as falhas e a falta de regularidade afastam-nos de qualquer expectativa de atingir melhores lugares na classificação, pois o nível é alto e existem actualmente muitos bons pilotos. Após este descalabro, resignei-me a lutar apenas pelo título colectivo para a minha equipe, pois pouco poderia esperar em termos de resultados individuais.
Na competição seguinte, tudo mudou e acabei inexplicavelmente no 3º lugar do pódio. Passei de derrotado a vencedor num ápice! Aquilo que poderia parecer uma miragem impossível de alcançar, passou a ser algo atingível. Foi o meu primeiro pódio numa competição nacional e teve um sabor especial. Tive de lutar contra muitas adversidades e dores físicas resultantes dum acidente (sem consequências graves) durante uma descolagem falhada. Caí literalmente por uma ribanceira abaixo e fui atropelado por um calhau gigante que rebolou na minha direcção. Fiquei com um braço totalmente negro e dorido, mas ainda assim consegui descolar novamente. Passei o grupo que liderava a prova e encontrava-me na liderança no momento em que a prova foi cancelada (por motivos de segurança discutíveis) . Não venci nesse dia, mas consegui ser regular no dia seguinte, onde ataquei e liderei a prova, apenas sendo ultrapassado no final por alguns pilotos. Tive de voar durante vários dias com um hematoma enorme num braço que me causava limitação de movimentos, falta de força e dores brutais.



Logo no primeiro dia de prova, passei para 5º lugar do Campeonato Nacional. No segundo dia de prova, voltei a cometer um erro, contudo insisti e lutei como pude para cumprir o objectivo do dia e chegar ao final da prova, ainda que com um atraso brutal para os primeiros classificados. Tinha uma vantagem confortável para os pilotos que me seguiam e desci apenas um lugar. No terceiro dia de competição voltei a ser regular e subi para 5º lugar de novo.
Faltava apenas um dia de competição e já estava definido o Campeão Nacional, mas o segundo lugar ainda era uma incógnita e qualquer um dos 10 primeiros poderia sagrar-se vice-campeão nacional. Seria uma “prova de nervos” para todos e um voo tático de controle dos adversários.
A corrida começou mal, com um acidente dum amigo e ex-colega de equipa logo no inicio da prova. Felizmente ele encontrava-se bem e comunicava pelo rádio! Nessa altura, ainda estava em terra e só descolei quando soube que ele estava realmente bem! Fiquei nervoso, atrasei-me demasiado e tive de lutar bastante par alcançar o grupo da frente. Consegui chegar perto, mas depois perdi-os novamente. A certa altura calculei que estaria virtualmente no pódio se a prova acabasse ali, mas ainda faltavam algumas horas de voo e tudo se iria alterar. Três dos pilotos que estavam à minha frente eram "cartas fora do baralho" no campeonato.
A visão do acidente do meu amigo (que estava classificado na altura em 3º lugar) fez-me pensar bastante acerca das ambições desmedidas e decidi relaxar e apenas gozar o voo sem me preocupar com os resultados. Os pilotos foram agrupando-se e trabalhámos todos em conjunto para chegar o mais longe possível, num dia de voo complicado. Juntei-me aos meus amigos (alguns adversários directos na classificação) e voámos todos juntos. Deixei de ter a necessidade de tentar vencer (o que quer que fosse) e senti-me bastante bem apenas por poder estar a voar daquela forma. Senti um misto de prazer e emoção ao ver um ex-aluno a voar comigo e a caminho de se sagrar vice-campeão nacional. Ele merecia aquele títiulo!
No final, adorei ter conseguido competir a um nível tão elevado, com todos estes excelentes pilotos. Senti uma enorme emoção (convenientemente disfarçada) de ver um ex-aluno a confirmar-se como um dos melhores pilotos nacionais, atingindo um nível que eu sempre soube que estaria ao seu alcance, desde o primeiro dia em que o conheci!
Foi uma época difícil e repleta de contratempos, incertezas e dificuldades. No começo do ano definiram-se objectivos individuais e colectivos dentro da Equipa AVLS. Definiram-se objectivos alcançáveis e objectivos sonhados! Dificilmente pensei que conseguiria atingir os objectivos a que me propus. Sinto que realizei mais um sonho "quase impossível", numa altura em que ponderava seriamente deixar as competições e dedicar-me a explorar outros horizontes. Estava convencido que a minha margem de progressão neste desporto seria cada vez mais limitada. Eis senão quando, consegui aprender coisas novas, descobri novas técnicas de voar intuitivamente, novas estratégias competitivas e novas margens de progressão para conseguir voar … tudo aquilo que sei … que serei capaz um dia ... :-)
O voo livre é apaixonante e as pessoas envolvidas neste desporto são fantásticas! Existe uma parte muito positiva e bonita na "alta competição" que se traduz na amizade que une a tribo parapentista nacional e que não tem paralelo no mundo. Tenho a nítida noção que somos um grupo de amigos que voam livremente e por prazer. No final acaba por vencer alguém e todos ficamos felizes por ele, independentemente de quem fôr. Sinto-me feliz e satisfeito por ter cumprido todos os meus objectivos ao ficar classificado em 7º lugar ( Top 10) e por ter contribuído para que o meu clube (AVLS) se sagrasse vice-campeão nacional pela segunda época consecutiva.
Com tudo isto, voltei a a sonhar “bem mais alto” e em vez de abandonar definitivamente as competições, sinto-me motivado a tentar participar em algumas provas da Taça do Mundo de Parapente! Iupi!!!!!!!!!!!!!!
Em boa verdade não sei porque é que um pássaro voa, nem quero saber. Voar já é tanto. Explicar o voo morfologicamente é reduzi-lo, é fazê-lo aterrar. O que é banal para um pássaro tem de continuar a ser maravilhoso para nós.
Miguel Esteves Cardoso
Porque me apetece viajar no tempo e porque quero sentir o vento em pleno voo, e que as pessoas olhem, observem e tomem consciência de que a glória ainda existe...
Richard Bach
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