Um pouco de história sobre os Indios da tribo Mura da Amazónia

Os muras são um grupo indígena brasileiro que habita o centro e o leste do estado do Amazonas. Esta tribo indígena possui ampla participação na história brasileira, remontando ao período da colónia, quando já eram citados em documentos nos quais ficavam visíveis a sua personalidade arredia e seu espírito de resistência frente ao domínio da civilização portuguesa.

Sabe-se que eles faziam das canoas as suas casas, que como índios abrangeram uma grande área da acção que se estendia da fronteira do Peru. Sabe-se que se destacaram nas tentativas de rechaçar a invasão dos civilizados nos seus territórios, sendo aguerridos, destemidos e usando tácticas especiais de ataque, que, com as suas incursões atemorizaram a Amazónia do século XVIII.

Os muras, considerados "incivilizáveis", foram atacados por três sucessivas e sangrentas "expedições punitivas", sofrendo muitas perdas por epidemias como sarampo e varíola, tendo sido contra eles pedida uma devassa e a solicitação de "guerra justa" entre 1737 e 1738, mas que não foi concedida. Sem condições de enfrentarem a forte pressão, procuraram a paz em 1786, mas não suspenderam totalmente as investidas contra os portugueses.

Em 1835, voltam à luta ao aliarem-se aos cabanos. Muras e tapuios fizeram da Cabanagem um espaço de reconstrução da liberdade perdida e de apropriação de poder. No caso dos muras, o desejo por liberdade custou muitas vidas e sofrimento. O ponto culminante dos conflitos entre os muras e a sociedade regional foi a sua participação na Cabanagem ao lado dos rebeldes. Provavelmente, nenhum dos grandes grupos indígenas da Amazónia pagou preço maior do que os muras, ao esforço contínuo de dizimá-los e de expulsá-los de suas praias e lagos tradicionais.

A partir de 1863, os muras deixam de ser citados nos relatórios oficiais, o que significa o não envolvimento em conflitos. Actualmente, a única língua mura conhecida é a pirarrã, tendo sido todas as outras variantes extintas.



Os Mura havendo sido vitimados por epidemias, pelos ataques de guarnições militares e civis, pelos efeitos dos contactos com os “civilizados”, os Mura que eram considerados um dos maiores grupos tribais da Amazónia e que por diversos meios procuraram evitar esses contactos, acabaram por pedir a paz e integraram-se nos povoados rurais das cercanias onde viviam, devendo ter diminuído muito em número e perdido grande parte do seu acervo cultural.


Características Culturais

Em decorrência dos dois séculos de intenso e violento contacto com a sociedade regional; do forte processo de miscigenação da difusão de bebidas alcoólicas, etc., Os Mura foram sendo progressivamente absorvidos pela civilização com as vantagens e desvantagens que tal processo comporta, perdendo muito dos seus costumes originais.

A organização social dos Mura é baseada em famílias extensas matriciais. Antigamente o casamento geralmente era realizado com a prima cruzada e nesta ocasião, o homem simulava o roubo da mulher. Actualmente há um alto grau de miscigenação com a população regional. Outra informação é que evitavam pronunciar o próprio nome e o de seus irmãos; não usavam termo de parentesco e utilizavam o nome próprio.

Actualmente, somente alguns elementos apresentam caracteres indígenas marcantes, e de um modo geral possuem estatura mediana. Apesar do alto grau de miscigenação, resultante do contacto contínuo, não eliminaram totalmente as diferenças de ordem cultural. Observamos que entre os Mura os laços matrimoniais sucedem-se entre índios de etnias diversas, incluindo não índios.

Habitações

Antigamente este grupo vivia nos ramos das árvores na mata, ou em redes atadas nos galhos vergados sobre a margem do rio, ou, então, em simples coberturas. Não construíam habitações sólidas e fixas e as coberturas precárias, de palha, eram armadas sobre quatro esteios.

Actividades de Subsistência

Antes a economia era de subsistência e agora já estão engajados num sistema de troca extra-tribal. As actividades básicas são a agricultura, pesca, colecta e extractivista. Os Mura são considerados exímios pescadores e caçadores, sendo esta sua maior fonte de subsistência.

Todo o produto da agricultura é para ser consumido internamente, excepção de algumas frutas e a mandioca destinada à farinha, com excedente destinado a venda. A pesca está toda comprometida com o consumo interno, a não ser a do pirarucu, que é salgado e destinado a venda. A colecta de frutos silvestres, mel e castanhas é quase que totalmente voltada para o próprio consumo, enriquecendo a dieta alimentar. Algumas seringueiras rendem algum dinheiro, bem como a extracção do óleo da copaíba (planta que previne alguns tipos de cancro) e corte de madeira. A pesca constitui a actividade básica de subsistência do grupo, ela é praticada com arco e flecha ou timbó nas águas mais paradas dos lagos. Os peixes são consumidos assados na brasa, mosqueados em forquilhas ou simplesmente cozidos.

O trabalho na roça é uma actividade desempenhada. Normalmente a técnica aplicada é da coivara, plantam principalmente mandioca, macaxeira, banana, jerimum, mamão, batata-doce, cana-de-açúcar e cará. Utilizam pequenas porções de terra em formas arredondadas, obtendo assim produto suficiente apenas para o consumo de cada família. Da mandioca preparam á farinha e fazem uso do tipiti.

Instrumentos para Subsistência

1) Armas

Os Mura foram considerados os mais aguerridos da Amazónia. Ficavam nas árvores e quando o inimigo passava caiam-lhe em cima com flechas, pois eram hábeis no manejo do arco e flecha. Os arcos são simples, sem enfeites. Os arcos são feitos de ingarana ou pau d’arco e, para sua confecção a madeira, após o corte. Esta é uma actividade masculina. Ás mulheres cabe o fabrico da corda, feita a partir da envira. As flechas fazem-nas com ou sem emplumação, sendo esta última modalidade a mais utilizada, pois, na maioria das vezes, pescam com arco e flecha. O uso de zarabatanas é hoje pouco utilizado.

2) Transportes

O meio de transporte desses índios era e é essencialmente feito através de rio. Nos dias actuais, ainda constroem canoas de casca de árvore marupá, da copaíba e do jabotá.

3) Adornos

Os homens não só ornam os braços e pernas, mas ainda furam o nariz, orelhas e beiços, donde trazem pendentes, conchas, dentes de porco e de feras. Os Mura usavam também colares e cintos. Hoje em dia os ornamentos são constituídos somente de colares, braçadeiras e anéis. Os cabelos são cortados com pente e tesoura, o que antigamente era feito com mandíbula de piranha no mesmo processo do corte com navalha.

4) Brinquedos

As brincadeiras infantis são uma forma de prepará-los para a vida adulta. É assim que se vêem meninos aprendendo a fabricação de arcos e flechas para as suas pescarias, com carácter de brincadeira, enquanto que as meninas brincam com fusos e ajudam a cuidar das crianças menores.



Situação Actual

Pelos confrontos em defesa territorial, os Mura conseguiram além do decréscimo populacional, realçar e atrair para o grupo uma antipatia e sérios preconceitos que são demonstrados até os dias actuais. A visão do colonizador e os entraves para o processo civilizatório imposto por eles, são passados através de dados históricos, permeados de malquerença. Preconceito este comum no confronto entre populações etnicamente diferenciadas.

Os índios Mura, tem contacto permanente com os “civilizados”, representados na forma de regatões, extrativistas e “motores” que cruzam o rio diariamente e que habitualmente param nas praias, onde os índios levantam os seus tapirís e lá realizam um comércio, através de trocas de mercadorias e bens já introduzidos na sua cultura. É comum a troca de caças, peixes, por aguardente, açúcar e quinquilharias.

Existem invasões territoriais e pesca predatórias nos lagos. Perda da autonomia cultural, da posse do território e engajamento em actividades produtivas regionais.

Actualmente os Mura não andam nus. Os cabelos que antes eram aparados por mandíbula de piranha, são cortados com pente e tesoura, os homens aparam os seus bem rente, já as mulheres deixam-nos longos.

A cultura material está restrita a colares de sementes, miçangas, contas diversas e anéis de tucumã.

As habitações de um modo geral são simples e rústicas, possuem uma ou duas águas, armadas por oito esteios em forma de forquilhas onde são encaixadas as vigas horizontais. A cobertura é feita com folhas de babaçu ou soro-roca.

O despreparo dos índios para a vida urbana sem que lhe seja oferecidas condições de boa adaptação, leva ao conflito nas disputas pelo acesso aos frágeis equipamentos urbanos e é inevitável o choque de dois modos distintos de comportamento social e representação da vida: o indígena e o não indígena (Cariua).

Encontram-se num processo de negação étnica, envergonhando-se da identidade tribal. Todavia, o grupo Mura tem se empenhado de modo a reverter esse processo.

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