A Subjectividade dos Comportamentos

Não se ama alguém senão pelas qualidades aparentes.


Uma mulher que se põe à janela para ver quem passa, se eu passar, poderei dizer que ela se pôs lá para me ver? Não, pois ela não pensa em mim em particular. Mas aquela que ama alguém por causa da sua beleza, ama-o? Não; porque a varíola, que matará a beleza sem matar a pessoa, fará com que ela deixe de o amar. E se me adiam pelo meu juízo, pela minha memória, amam-me, a mim? Não; porque eu posso perder estas qualidades sem me perder a mim mesmo. Onde está pois este eu, se não está nem no corpo nem na alma? E como amar o corpo ou a alma, senão por essas qualidades que não são o que faz o eu, visto que podem perecer? Pois, amar-se-á a substância da alma de uma pessoa abstractamente e as qualidades que lá estiverem? Isso não pode ser e seria injusto. Logo não se ama nunca a pessoa, mas somente as qualidades. Portanto, que não se riam mais daqueles que se fazem honrar pelos cargos e ofícios, pois não se ama ninguém senão pelas qualidades aparentes.

Blaise Pascal, in "Pensamentos".

0 Whariúthinqs?:

Enviar um comentário


Copyright 2008 | Paulo Reis