Perfeito, perfeito, perfeito… foi o meu sábado!

"Once again, I´m learning to… live on edge of the wind, looking for that ounce of excitement, that whisper of a thrill that there is no sense living your life without."

É absolutamente fantástico quando consigo realizar aquilo que imaginei no dia anterior. Sonhei (acordado) que ia fazer uma viagem aquática (curta) e intensa. Temia que me faltassem os recursos físicos, a sabedoria técnica e a capacidade treinada para me movimentar no meio aquático. O mar incute respeito e reserva demasiadas variáveis que ainda não me foram reveladas.

O meu avô (com 85 anos) é um marinheiro experiente que correu o mundo (2 vezes) a bordo no Navio Escola Sagres. Desde criança, que cresci a ouvir histórias das suas aventuras fabulosas e sentia uma atracção enorme pelo mar... No sábado fui até à praia, com a alegria de quem tem um objectivo real em mente. O momento de preparação do material, serviu para observar as condições e visualizar aquilo que queria fazer. Após ter tudo preparado, apenas me restou esperar pelo meu companheiro de aventura! Este meu companheiro de aventura, é alguém (que conhece poucos limites) e consegue realizar quase tudo a que se propõe independentemente dos obstáculos. É do género de individuo que põe facilmente em prática tudo aquilo que idealiza. Quando pondero os riscos e coisas que podem correr mal, ele não exita em ser o primeiro a avançar. No Kitesurf temos (ambos) quebrado barreiras psicológicas e físicas a cada sessão em que nos propomos alargar os nossos horizontes. Motivamo-nos mutuamente e desafiamo-nos (ás vezes para além da lógica racional) a fazer coisas para a qual ainda não estamos habilitados. Neste processo de aprendizagem acelerado, temos conseguido lidar com inúmeras situações (mais ou menos) adversas e até por vezes perigosas.

No sábado passado, após o equipamento estar preparado, entretive-me a apreciar os kitesurfistas que estavam na água e que permaneciam constantemente na mesma zona. Aquilo parecia-me um engarrafamento de papagaios em hora de ponta, o que me causou uma certa claustrofobia. O mar é tão imenso e aquelas “alminhas”, talvez por uma necessidade de segurança não sentiam a necessidade de explorar outras áreas, limitando-se a compartilhar o mesmo espaço com os demais.

Com a chegada do meu companheiro de aventura, decidimos (após um "brainstorming" demorado de cerca de 1 minuto) que iríamos tentar velejar pela costa acima contra o vento. Fomos para a água com grande determinação, mesmo que fosse bastante difícil (ainda assim não era impossível) para alguém que nunca tinha bolinado (subido ao vento) consistentemente. Insistimos até onde a força física e mental nos permitiu, tendo percorrido uma grande parte da zona da Costa da Caparica e regressado ao ponto de partida após 3 extenuantes horas de navegação no mar. O meu companheiro regressou um pouco antes e apenas cobriu 2/3 do trajecto. A nossa alegria era brutal e o sentimento de conquista enorme, pois ambos tínhamos conseguido bolinar consistentemente ao vento. Tivemos a perfeita noção que a partir deste momento, podemos velejar para onde desejarmos. O mar passou a ser um recreio onde podemos brincar alegremente e em (maior) segurança, pois aprendemos a bolinar!

O cansaço era grande, mas o dia ainda teria mais algumas surpresas reservadas para ambos! O meu companheiro de aventuras, lembrou-se que o nosso ex-instrutor estaria a dar aulas no extremo oposto da Costa da Caparica. Teve a brilhante ideia de descermos ao vento e ir ter com ele. O trajecto de ida seria fácil, pois era sempre a favor do vento, mas o regresso seria muito mais difícil e incerto!
Encetámos um plano alternativo que passava por deixar um carro (com uma muda de roupa seca) numa praia mais abaixo, para a eventualidade de não conseguirmos regressar à Praia da Nova Vaga.

Lá seguimos a navegar (de novo) costa abaixo. Como estava estoirado, lembrei-me que alguém me tinha revelado anteriormente que existia uma forma de descansar os músculos das pernas. Esse método consiste em velejar em modo “ fakie”, com a prancha ao contrário e quase de costas para o Kite.
Como o trajecto ainda era grande (uns quantos quilómetros a favor do vento), achei que seria uma boa altura para aprender e treinar a técnica. Lá fui eu aos tombos constantes pela costa abaixo, até que consegui encontrar o equilibro certo. De um momento para o outro, comecei a velejar “fakie” para ambos os lados e aquilo acabou por se encaixar de forma natural no meu processo de aprendizagem. Fiquei completamente extasiado de alegria (uma vez mais), pois aprendi algo muito importante e que muito poucos Kitesurfistas conseguem dominar com facilidade.

Quando cheguei ao destino sentia-me emocionado, para além de tremer de frio e sentir pouca força nas pernas. Parámos por meia hora para falar com os nossos colegas (aprendizes) da escola Kitesurfway. O meu companheiro de aventura, nem pestanejou e obrigou-me a tentar regressar. Eu sentia-me totalmente arrasado e sem força para continuar a velejar (pelo menos mais 1 hora) após cerca de 5-6 horas de esforço físico intenso e sem comer nicles. Ainda me meti dentro de água, mas o frio e as pernas fragilizadas fizeram-me vacilar e perder a prancha. Tive de andar à procura dela no mar alto bastante agitado. O meu companheiro de aventura seguiu viagem e chegou ao destino.

Após este dia intenso, ele afirmou categoricamente que estava enjoado do Kitesurf e não queria ver o mar durante o próximo mês! Mas, … lá foi acrescentando que afinal as previsões para o dia seguinte seriam muito boas…

Nessa noite recebi um telefonema dum colega de trabalho, a contar-me que tinha finalmente visto alguém a praticar Kitesurf pela primeira vez. Estava numa praia na Costa da Caparica e conseguia ver umas coisas estranhas (a movimentarem-se na água) ao longe, mas a certa altura começou a ver um papagaio azul (padrão xadrez claro/escuro) a vir pela costa acima. Ficou intrigado com a forma como o “tipo” deslizava fluidamente pela água.

Tive de lhe revelar que conhecia e conviva com o alienígena que tinha feito essa proeza, pois afinal ele era: ”moi même”.

No Domingo sofri as consequências e as dores musculares não me permitiram sair de casa. Hibernei durante horas intermináveis (tal era o cansaço) e vi muitos filmes pirateados (em sessões continuas), pois não conseguia sequer movimentar-me com dores em músculos que eu não julgava sequer existirem.

Sei que tenho um amor incondicional pelo voo livre em Parapente, mas estou a apaixonar-me irremediavelmente pelo Kitesurf!

"Once again, I´m learning to… live on edge of the wind, looking for that ounce of excitement, that whisper of a thrill that there is no sense living your life without."

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