Silêncio da montanha

Quem vive o tumulto barulhento desta floresta electrónica, embalado pelos motores do trânsito, despertado pelos sons da Internet e passa o dia a reconhecer os diversos toques dos telemóveis, anseia, às vezes por um "silêncio de montanha", um sossego de pensar quieto, sem vozes e sem perguntas.
Claro, só um pouco, coisa de um dia, dois, porque mais do que isso, manda a minha alma desconfiada pedir ajuda, antes que eu me transforme no eremita que já invejei. Enfim, o silêncio, como a solidão, são remédios que tomados em pequenas doses nos fazem muito bem, porque, queiramos ou não, somos seres gregários, feitos para a partilha, ao menos da presença, ainda que distante e da palavra, ainda que vazia.
No entanto, sabemos tão pouco de partilhar que tendemos a dividir solidões e silêncios, partilhar o que não somos, falar repetindo outros e, quase sempre, fugimos como loucos assustados quando alguém, de facto tenta entrar no quarto escuro onde guardamos as nossas palavras verdadeiras, nossos medos e nosso coração.

Há silêncios e silêncios.

Seres estranhos somos nós, que buscamos desesperadamente o encontro e o falseamos, enchendo-o de silêncios longos com os quais vamos nos retirando do outro, como quem rouba, como quem trai. Tudo acontece, mesmo durante as etapas duma relação que passa da euforia, em que se corre ao outro a cada pequena novidade até quando vão morar juntos e o silêncio toma conta dos cômodos. Então, passam pelas gentilezas e favores, que também preenchem uma amizade e chegam ao insuportável e então, é claro, inventam um motivo para se separar, sabendo no entanto que seriam amigos para sempre. Fico pensando nesses casais que envelhecem juntos, será que conseguem abrir a porta e permitir que outro penetre no quarto escuro (e, nesse caso, o silêncio passa a comunicar e não frustrar) ou aprendem a conviver com a impossibilidade da comunicação, conviver com o silêncio disfarçado. Não sei, entendo cada vez menos a que se destinam as relações!

Texto adaptado de Vânia Vasconcelos

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