E ontém foi também o último dia de alguém...

Não conhecia pessoalmente este "Anjo" com um lado espiritual que vagueva pelo mundo, mas a morte dele trouxe-me mais uma lição importante na minha vida! Ele praticava o mesmo desporto que eu pratico com amor. Levou a sua prática aos limites, tal como eu em tempos fiz. A diferença entre nós é que eu renasci de novo para a vida e ele ... ?? Não sei .... o que vem a seguir a ...

Morreu a fazer tudo o que sempre sonhou e até escreveu uma mensagem a despedir-se do desporto que amava um ano antes de partir. Guardei essa mensagem na altura pois achei que era a forma com eu um dia me gostaria de despedir do Parapente!

Essa mensagem tem muitas lições importantes para mim! Gostava de ter tido a possibilidade conhecê-lo pessoalmente, pois apenas tive possibilidade de ver algumas imagens impressionantes dele a praticar a sua forma de arte. A sua mensagem impressionou-me pela sua intuição e o facto do "não sou capaz disso" encarado com determinação, que o levou a ser "muito bom" naquilo que fazia, independentemente dos riscos que correu para atingir aquilo que sempre desejou em vida! Até um dia ...

Partistes a voar! Tal como tu partistes, caso o meu destino tenha de ser o mesmo um dia, também vou partir feliz!

Para nunca me esquecer, transcrevo em seguida o anúncio da sua partida e as palavras de despedida escritas por ele próprio para os companheiros de voo, um ano antes de partir definitivamente!

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Enviado por: "Alexis"
Sáb, 29 de Set de 2007 10:47 pm
Olá amigos pilotos...Venho através dessa comunicá-los com muita tristeza o falecimento do irmãozão Marcelo Borzino. O acidente ocorreu às 14:45 em um de seus treinamentos para a realização do Infinity tumbling...Infelizmente nesta última tentativa ele caiu na vela e em queda livre totalmente embrulhado pelo parapente bateu fortemente na água falecendo instantaneamente. O sepultamento será em Petrópolis-RJ no cemitério municipal por volta da 15 hs de domingo. Com muita dor no coração me despeço de meu grande amigo e sentimentos à família e amigos. Alexis

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Enviado por: "ericohifly"
Dom, 30 de Set de 2007 12:29 am
É com muito pesar, que venho aqui deixar meus sinceros sentimentos á família e amigos, do vôo ou não, do amigo Marcelo Borzino.Sem dúvida fara muita falta, no universo do vôo livre mundial, pois tratava-se de uma referencia no esporte.Só os que conhecem o "prazer" de acertar uma manobra, é que entendem os "riscos" corridos por quem a procura.
É isso aew meu amigo, que Deus o tenha em bom lugar...
Grande abraço e muitos "INFINITYS PERFEITOS" pra vc, onde quer que esteja...Érico Oliveira - ActionFly

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Dom, 30 de Set de 2007 12:42 am
Essa é uma daquelas notícias que só podemos classificá-la como surreal.O Borzino já havia anunciado aqui neste mesma lista, há cerca de um ano ou dois, sua intenção de abandonar o parapente por temer o pior, um acidente fatal.Muitos o encorajaram a não largar o esporte, inclusive eu. Agora recebo esta notícia. É simplesmente inacreditável.Aí fica aquela angústia: se pudéssemos voltar alguns segundos atrás. Descanse em paz, irmão, onde estiver.

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Enviado por: "Alexandre Pauferro"
Dom, 30 de Set de 2007 4:03 am
Tem razão Ivo, surreal demais para que possamos compreender facilmente. Compartilhávamos a mesma admiração pela acrobacia, admirava-o e sempre imaginei chegar 'próximo' ao nível dele para treinarmos juntos.Quando soube da notícia não quis acreditar. Alguns trechos da carta de despedida me vieram logo a mente.. Lembro que quando li fiquei bastante impressionado coma auto-análise e a sensatez dele. Achei tão sério que guardei na minha pasta de "Mensagens Muito Importantes". Também guardei a conclusiva resposta que ele deu a você, fazia tanto sentido que achei que ele realmente nunca mais voltaria, mas talvez essa fosse a missão dele por aqui..- Abaixo a reprodução da carta, gostaria muito que a despedida tivesse sido só essa.

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De: "Marcelo Borzino"
Data: Mon, 28 Aug 2006 14:27:35 -0300
Assunto: Carta de despedida...Companheiros de jornada,
Esta é com certeza uma das mais difíceis cartas aos amigos que escrevo na vida, mas infelizmente (ou felizmente) é assim! Quero comunicar a todos publicamente que estou deixando o vôo a partirde hoje. Esta é uma decisão irremediável e que já vem sendo amadurecida desde meu último acidente, onde quebrei a coluna. Só nos últimos dois dias tive a certeza necessária para tomar a decisão.Tão repentina quanto a minha entrada no mundo alado é a minha saída, mas não pensem que esta se deve a algum fato ou acidente em específico.Na verdade, canalizei toda a minha energia nos últimos anos para a acrobacia, deixando de lado partes importantes de mim.Nos últimos meses, aliás, antes mesmo de quebrar a coluna, vinha me perguntando se essa "loucura toda" era realmente necessária para minha felicidade e, principalmente, se valia o risco a que me expunha. A resposta veio-me de maneira muito clara e incontestável. Sobre isto, ressalto que sempre fui muito intuitivo ao longo de minha vida e não será agora que deixarei de sê-lo.Sem querer ser piegas, o fato é que o nível de acrobacia em que me encontro não condiz com a realidade de minha vida profissional e familiar. Para continuar deste ponto em diante eu teria que me dedicar 24 hs por dia a acrobacia, isto é, dormir, acordar, respirar acrobacia... Mas esta não é a minha realidade e, sinceramente, não acredito do fundo do coração que realmente assim a desejasse. Meu ego com certeza a deseja, mas não seu "dono"... Não tenho a menor condição hoje em dia de comprar uma vela "normal" e simplesmente voar nos finais de semana, pois não saberia como. Meu ego ainda é um grande oponente a ser vencido e aos poucos o dominarei. Até lá, se é que esse dia chegará, ficarei sem voar (talvez um duplo com algum amigo), mas torcendo por todos que a esse esporte apaixonante seguem ligados. Peço desculpas a todos os que eventualmente eu possa ter magoado com meus actos e peço-lhes que deixem isso em segundo plano, pois existem coisas muito mais importantes na vida. Já aos mais próximos digo que a nossa jornada continua e não será o fato de eu não estar mais voando que mudará nossas amizades. Já estamos muito além... Forte abraço e happy tumblings para todos,

Marcelo Borzino

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De: "Marcelo Borzino"
Data: Tue, 29 Aug 2006 14:55:01 -0300
Assunto: Resp.: Carta de despedida...Para: "Ivo Borges"

Caro Ivo (a msg segue com cópia para os demais para que fique um pouco mais clara minha atitude), a vida é mesmo cheia de surpresas. Quem diria que "ilustres"professores universitários como nós se dedicariam a este esporte tão peculiar, onde homens ficam "pendurados" por um pedeço de tecido a cruzar os céus? Ou que estes podem até chegar a um alto nível em acrobacia com seus brinquedos, a ponto de ganharem uma prova do campeão mundial, como aconteceu comigo no Acroandes de 2004?! Realmente o vôo de acrobacia foi para mim uma descoberta tardia, que fiz aos meus 29 anos de idade por puro acaso quando estava em Vitória/ES para montar uma filial de meu escritório de advocacia. Dá pra imaginar isso? Um cara com 29 anos de idade que acabara de fazer seu mestrado em Direito Tributário, professor da PUC e da Cândido Mendes, sócio de um escritório de advocacia especializado em Planejamento Fiscal e reestruturação societária, chefe de família responsável pelo sustento de 5 pessoas, começando a voar e se dedicando profissionalmente ao vôo acrobático? É bastante complicado meu caro...Até agora não sei como consegui manter meus empregos, meu relacionamento, minha saúde mental e ao mesmo tempo ter treinado o tanto que treinei para chegar ao nível que hoje tenho em acrobacia. É muita ruptura para uma estrutura profissional, familiar e pessoal construída arduamente ao logo de muitos anos de dedicação. Mas sou um cara que desconhece o conceito "não sou capaz disso"! Para mim, quanto maior o desafio, maior a satisfação de vencê-lo, tenha a natureza que tiver. Isso sempre foi assim em minha vida, onde aprendi a ser um campeão no esporte desde bem cedo. Depois entrou o Direito em minha vida e meu objetivo então foi inteiramente focado nisto. Já no primeiro ano de formado passei para a Procuradoria da Fazenda Nacional e nem bem entrei, saí! Saí para aceitar uma proposta de trabalho irrecusável num grande escritório de advocacia tributária. No mesmo ano passei também e 1o. lugar na prova para professor de Direito Tributário da Cândido Mendes e ganhei uma bolsa no seu Mestrado (para o qual também passei em primeiro lugar!). Foi aí que comecei minha vida académica propriamente. Escrevi muitos artigos e dois livros (um que está há dois anos no prelo e um Curso de Direito Tributário que até hoje não revisei... culpa do vôo... ;). Logo em seguida larguei o escritório em que trabalhava (e onde ganhava muito bem, diga-se) e fui montar meu próprio "barraco", que hoje tem sede em Belo Horizonte e filiais no Rio, SP e Vitória. Isso tudo ocorreu em apenas 5 anos...quando então conheci o vôo. Neste momento realizei que não havia perdido a paixão pelo esporte, pela superação de meus limites, pela vitória e foi aí que a minha via crucis começou.Estabilizado financeiramente deleguei tudo para pessoas de minha confiança e comecei a voar de 4 a 5 dias por semana, sem contar os 3 meses por ano que tirava para viajar ao exterior nas melhores épocas (para treinar). Isso sim fez toda a diferença em minha evolução como piloto de acrobacia.É claro que tenho consciência de que "levo jeito" pro negócio, mas se evoluí rapidamente foi porque estudei e treinei muito, mas muito mesmo.Só que a velocidade com que logrei evoluir cobrou seu preço e foi bem alto. Nos últimos 24 meses passei 8 meses de "molho" no "estaleiro". Primeiro fraturei a bacia num giro da morte mal feito e fiquei 2 meses deitado numa cama de hospital. A recuperação foi longa... Depois estourei dois ligamentos do meu tornozelo direito ao cair de reserva...Este ano faturei a coluna e fiquei 4 meses em recuperação... mal voltei a voar, me atirei numa decolagem kamikaze com uma vela de 16 m2 (proj.) com vento de cauda e arborizei a uns 200metros abaixo da rampa... além disso, já foram 6 reservas em muito pouco tempo, sendo que dois deles joguei a menos de 200 metros de altura, pois estava treinando manobras baixo. Cara, o "anjo da guarda" tem trabalhado muito mesmo nos últimos tempos e eu sinto nitidamente que a coisa toda saiu do meu controle. Ou seja, o bom senso na prática e a exposição aos riscos inerentes ao esporte extrapolaram em muito qualquer limite de razoabilidade. Ponderando os valores que pautam hoje a minha vida não tenho dúvidas: o vôo acrobártico nas circunstâncias em que o pratico está oferecendo um nível de risco alto demais para os meus padrões. Isto é, sem ser profissional de acrobacia, com dedicação integral ao esporte, sinto-me como um "jogador" de roleta-russa. Seria questão de tempo para "tirar o número premiado"... as minhas estatísticas pessoais demonstram claramente isto.Além disso, sou muito intuitivo e sinto que esse é o caminho certo a seguir agora. Por outro lado, não sinto o menor prazer em simplesmente voar, o que é uma coisa muito séria, pois isso significa que estou voando pelo motivo errado, ou seja, pelo meu ego. E essa é a razão pela qual eu não vou somente deixar de fazer acro, mas sim parar de voar.Outros são os fatores que contribuíram para essa minha decisão, mas esses eu deixo de fora da argumentação, pois têm um foro extremamente íntimo, espiritual. Bem, daqui a algum tempo voltarei a mandar notícias de meus novos rumos aos amigos e não deixarei de manter o contato, pois o vôo foi para mim uma parte muito importante e feliz desta existência e não há porque renegá-lo ou esquecê-lo se tantos bons momentos ele me trouxe.É como a lembrança de um ente familiar querido que se foi. Lembraremos dele para sempre e agradeceremos por termos tido a oportunidade de desfrutar a sua presença nessa breve passagem por este mundo. Saudades ficarão, mas estarei sempre disposto a fazer uma viagem para reencontrar velhos companheiros de jornada...Abraços saudosos,Marcelo "22" Borzino.

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