Conheço dois tipos de pessoas. Os que olham para as estrelas e os que as tentam tocar. Falo de estrelas verdadeiras e não de pessoas famosas. Nem sequer de pessoas verdadeiramente famosas. Sim, refiro-me àquelas pequenas luzes, hoje quase esquecidas, que se vêm nos céus das noites de lua nova, e que preenchem os vazios do espaço, e das nossas mentes.
Quando reparamos nelas, raramente conseguimos evitar grandes pensamentos, desejos e ilusões. Mas eu pertenço ao segundo grupo. Por isso faço-o de dia. Aprendi a voar e é assim que persigo o meu sonho. É de dia que tento agarrar uma estrela, voando. Cada vez mais alto, tento lá chegar, ao Sol.
Este é apenas uma das muitas estrelas que iluminam o nosso dia, e também as noites dos outros planetas deste sistema solar, e de outros planetas de outros sistemas solares, desta e doutras galáxias. E não o devemos nunca esquecer.
Porque mesmo de dia as outras estrelas estão lá. Escondidas atrás do seu brilho avassalador. É assim que, quando voo, e acho que já estou alto, mesmo muito alto, suficientemente alto, escondido pela luz que cega, olho para baixo e procuro os outros, os do primeiro grupo. Parecem-me sempre formigas, pequenos insectos atarefados, stressados atrás das migalhas de pão, pelos carreiros de auto-estradas e ruas que dividem as colónias de cimento onde vivem.
Então pergunto-me, será que sabem que estou ali, a vê-los? E como me parecem realmente pequenos! Eles, e os seus problemas. «Se eles soubessem o que é estar aqui, e não presos naquele engarrafamento lá em baixo…».
Voar é muito bom. No fundo, creio que é nisso que reside a beleza da coisa, na ausência da dimensão, o que nos torna no mesmo instante tão pequenos, ou tão grandes.
Tudo depende da objectiva para que sorrimos, ou do canto onde nos escondemos. Nessas alturas tenho a sensação de jamais conseguir viver sem voo, sem ilusão, e que realmente nunca vou chegar ao Sol.
Mas que me tenta chegar, e me chega tentar.
Acima de tudo tenho uma certeza, a de que não me vou esquecer de que para além do Sol há outras estrelas, e também, muitas, muitas formigas.
Texto do meu amigo José Ginja ... só para Amigos e Amigas muito Especiais!