«Só gostava que algumas coisas ainda estivessem no sítio. E a alma e o coração não se ressentissem desta modernidade consumida a prestações, por conta de um futuro que não deixa saborear o tempo presente».
Modernidade
Conversa-se num telemóvel XPTO, terceira geração, câmara fotográfica, vídeo, Internet. Só lhe falta fazer café e vomitar faxes. Mas não tem rede nos sítios mais improváveis e ouve-se as pessoas como se estivesse noBangladesh.
Escreve-se num computador com memória de elefante e rapidez de fórmula 1 que, por capricho, bloqueia nas partes boas do texto e se estampa a arquivar o que preciso. Ignorante de pai e mãe, o bichinho tem o corta e cola e outras ferramentas de grande utilidade para os iletrados preguiçosos e analfabrutos de serviço.
Almoça-se uma sopa e um croquete ao balcão para pagar o carro, a casa, o ecrã plasma e o adolescente lá de casa que trocou a mesada pelo mensalão.
Lê-se (lê-se?) jornais giros, carregadinhos de suplementos e fascículos sobre o brinco através dos tempos ou outros coleccionáveis sobre as cuecas das misses. Também oferecem faqueiros, crucifixos, bolas de futebol,berlindes, panos de cozinha e atoalhados. Às vezes também têm notícias.Modernos que são, fecham a edição cedo. Normalmente depois dos telejornais das oito, não vá um camião desgovernado matar três pessoas na A1 ou um tresloucado varrer a família à sacholada, coisas que dão sempre boas notícias, como se sabe.
Os telejornais entretêm, os reality-shows são notícia.
Os jornalistas andam de avião, jogam golfe, dão entrevistas íntimas, mostram os filhos e cão. Jantam com o patrão, no crédito têm mais de um cartão.
As putas escrevem livros. Sim, as putas escrevem livros e há quem os publique.
Trocou-se a ética pela estética, a retórica pelo pensamento, a dedicação pela sabujice, o profissionalismo pelo amadorismo pavoneante.
A ignorância, a desfaçatez, o culto do umbigo, do eu e do meu, ensinam-se nas escolas e promovem-se nas empresas.
Cultiva-se o físico e a flacidez da mente.
Governa-se ao sabor da corrente com assessores, conselheiros, maquilhadores e chefes de gabinete.
Em Portugal, as putas já foram digníssimas senhoras de rua e boteco manhoso.
Os jornais fechavam tarde, de madrugada e davam notícias.
Os jornalistas já foram grandes comedores e bebedores, deitavam-se tarde e, mesmo assim, escreviam belas prosas.
Comia-se sentado e bebia-se com elevação.
Não publicava livros quem podia, mas quem sabia Escrever.
Lia-se a Maria e a Nova Gente, jornalismo rosa de referência antes de saber-se o que isso era.
Falava-se ao telefone com tempo, escreviam-se cartas aos amigos, aos amores.
A política tinha gente com nomes de peso. Agora pesa-nos até o nome dos políticos que temos.
Saudosista, eu? Não, nem por sombras. Só gostava que algumas coisas ainda estivessem no sítio. E a alma e o coração não se ressentissem desta modernidade consumida a prestações, por conta de um futuro que não deixa saborear o tempo presente.
Modernidade
Conversa-se num telemóvel XPTO, terceira geração, câmara fotográfica, vídeo, Internet. Só lhe falta fazer café e vomitar faxes. Mas não tem rede nos sítios mais improváveis e ouve-se as pessoas como se estivesse noBangladesh.
Escreve-se num computador com memória de elefante e rapidez de fórmula 1 que, por capricho, bloqueia nas partes boas do texto e se estampa a arquivar o que preciso. Ignorante de pai e mãe, o bichinho tem o corta e cola e outras ferramentas de grande utilidade para os iletrados preguiçosos e analfabrutos de serviço.
Almoça-se uma sopa e um croquete ao balcão para pagar o carro, a casa, o ecrã plasma e o adolescente lá de casa que trocou a mesada pelo mensalão.
Lê-se (lê-se?) jornais giros, carregadinhos de suplementos e fascículos sobre o brinco através dos tempos ou outros coleccionáveis sobre as cuecas das misses. Também oferecem faqueiros, crucifixos, bolas de futebol,berlindes, panos de cozinha e atoalhados. Às vezes também têm notícias.Modernos que são, fecham a edição cedo. Normalmente depois dos telejornais das oito, não vá um camião desgovernado matar três pessoas na A1 ou um tresloucado varrer a família à sacholada, coisas que dão sempre boas notícias, como se sabe.
Os telejornais entretêm, os reality-shows são notícia.
Os jornalistas andam de avião, jogam golfe, dão entrevistas íntimas, mostram os filhos e cão. Jantam com o patrão, no crédito têm mais de um cartão.
As putas escrevem livros. Sim, as putas escrevem livros e há quem os publique.
Trocou-se a ética pela estética, a retórica pelo pensamento, a dedicação pela sabujice, o profissionalismo pelo amadorismo pavoneante.
A ignorância, a desfaçatez, o culto do umbigo, do eu e do meu, ensinam-se nas escolas e promovem-se nas empresas.
Cultiva-se o físico e a flacidez da mente.
Governa-se ao sabor da corrente com assessores, conselheiros, maquilhadores e chefes de gabinete.
Em Portugal, as putas já foram digníssimas senhoras de rua e boteco manhoso.
Os jornais fechavam tarde, de madrugada e davam notícias.
Os jornalistas já foram grandes comedores e bebedores, deitavam-se tarde e, mesmo assim, escreviam belas prosas.
Comia-se sentado e bebia-se com elevação.
Não publicava livros quem podia, mas quem sabia Escrever.
Lia-se a Maria e a Nova Gente, jornalismo rosa de referência antes de saber-se o que isso era.
Falava-se ao telefone com tempo, escreviam-se cartas aos amigos, aos amores.
A política tinha gente com nomes de peso. Agora pesa-nos até o nome dos políticos que temos.
Saudosista, eu? Não, nem por sombras. Só gostava que algumas coisas ainda estivessem no sítio. E a alma e o coração não se ressentissem desta modernidade consumida a prestações, por conta de um futuro que não deixa saborear o tempo presente.
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