Estamos perdidos há muito tempo

Foram previsões escritas e sempre actuais, de há 134 anos, do Grande Eça!

EÇA DE QUEIROZ escreveu em 1871 :

"Estamos perdidos há muito tempo...
O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada.
Os caracteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua ação fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte, o país está perdido!"


Certa vez, um homem tanto falou que seu vizinho era ladrão, que o vizinho acabou sendo preso. Algum tempo depois, descobriram que era inocente. O rapaz foi solto, após muito sofrimento e humilhação, ele processou o homem.

No tribunal, o homem disse ao juiz:
- Comentários não causam tanto mal...
E o juiz respondeu:
- Escreva os comentários que você fez sobre ele num papel. Depois rasgue o papel e atire os pedaços pelo caminho de casa. Amanhã, volte para ouvir a sentença!
O homem obedeceu e voltou no dia seguinte, quando o juiz disse:
- Antes da sentença, terá que catar os pedaços de papel que espalhou ontem!
- Não posso fazer isso, meritíssimo! respondeu o homem. O vento deve tê-los espalhado por tudo quanto é lugar e já não sei onde estão!
Ao que o juiz respondeu:
- Da mesma maneira, um simples comentário que pode destruir a honra de um homem, espalha-se a ponto de não podermos mais consertar o mal causado. Se não se pode falar bem de uma pessoa, é melhor que não se diga nada!

"Sejamos senhores de nossa língua, para não sermos escravos de nossas palavras".

Lições para a Vida


A revista "Isto é" publicou esta entrevista de Camilo Vannuchi. O entrevistado é Roberto Shinyashiki, médico psiquiatra, com Pós-Graduação em administração de empresas pela USP, consultor organizacional e conferencista de renome nacional e internacional. "Cuidado com os burros motivados" Em "Heróis de Verdade", o escritor combate a supervalorização das aparências e diz que nos falta competência, e não auto-estima.

ISTO É -- Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki -- Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de sucesso, você precisa ser director de uma multinacional, ter carro luxuoso, viajar na primeira classe. O mundo define que poucas pessoas tiveram sucesso. Isso é uma loucura. Para cada director de empresa, há milhares de funcionários que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados. Quando olha para a própria vida, a maioria convence-se que não valeu a pena porque não conseguiu ter o carro nem a casa maravilhosa. Para mim, é importante que o filho da rapariga que trabalha na minha casa possa orgulhar-se da mãe. O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes. Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar os seus projetos de vida, e não para impressionar os outros.

ISTO É -- O sr. citaria exemplos?
Shinyashiki -- Quando eu nasci, a minha mãe era empregada doméstica e o meu pai, órfão aos sete anos, empregado numa farmácia. Morávamos num bairro miserável. Eles são meus heróis. Conseguiram criar os seus quatro filhos, que hoje estão bem. É pena que a maior parte das pessoas esconda as suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da população americana. Em países como o Japão, Suécia e Noruega, há mais suicídios do que homicídios. Por que razão tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher que, embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa décadas num emprego que não o faz sentir-se realizado, mas o faz sentir-se seguro.

ISTOÉ -- Qual o resultado disso?
Shinyashiki -- Paranóia e depressão cada vez mais precoces. O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino nas aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece. A única coisa que prepara uma criança para o futuro é ela poder ser criança. Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão a roubar a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas. Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.

ISTO É - Por quê?
Shinyashiki -- O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo de recrutamento. É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As empresas valorizam mais a auto-estima do que a competência. Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia a todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia demonstrar interesse. Ela respondeu que estava muito interessada, mas, como falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei-a na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.

ISTO É -- Há um script estabelecido?
Shinyashiki -- Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por umPresidente de uma multinacional no programa O aprendiz? "Qual é seu defeito?" Todos respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal: "Eu mergulho de cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar". Éexatamente \'>\'o que o Chefe quer escutar. Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou esquecido? É contratado quem é bom em conversar, em fingir. Da mesma forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder. O vice-presidente de uma as maiores empresas do mundo disse-me: "Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir". Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor?

ISTO É -- Temos um modelo de gestão que premeia pessoas mal preparadas?
Shinyashiki -- Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento. Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema é a competência. Cuidado com os burros motivados. Não adianta você assumir uma função para a qual não está preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido nas minhas mãos. Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graçasa aos meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso para o qual eu não estava preparado. Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia. O país tornou-se incompetente e não acordou para isso.

ISTO É -- Está a sobrar auto-estima?
Shinyashiki -- Falta às pessoas a verdadeira auto-estima. Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, a minha auto-estima está baixa. Antes, o ter conseguia substituir o ser. O tipo mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser nem ter, o objetivo tornou-se parecer. As pessoas parecem que sabem, parece que fazem, parece que acreditam. E poucos são humildes para confessar que não sabem. Há muitas mulheres solitárias que preferem dizer que é melhor assim. Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.

ISTO É -- Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em tudo e de valorizar a aparência?
Shinyashiki -- Isso vem do vazio que sentimos. A gente continua a valorizar os heróis. Quem vai salvar o paísl? Quem vai salvar a equipa? Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta. O problema é que eles não vão salvar nada! Tive um professor de filosofia que dizia: "Quando você quiser entender a essência do ser humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarreia durante um jantar no Palácio de Buckingham". Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth também tem diarreia. Ela certamente já teve dor de dentes, já chorou de tristeza, já fez coisas que não deram resultado. A gente tem de parar de procurar super-heróis. Porque se o super-herói não aguentar a onda, todos o vão considerar um fracassado.

ISTO É -- O conceito muda quando a expectativa não se comprova?
Shinyashiki -- Exactamente. A gente não é super-herói nem super fracassado. A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza. Não há nada de errado nisso.

ISTO É -- Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?
Shinyashiki -- Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz a minha vida fluir facilmente. Há várias coisas que eu queria e não consegui. Tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais velho nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos. Com uma criança especial, eu aprendi que ou eu a amo do jeito que ela é ou vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que fosse. Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram resultado. O resto foram apostas e erros. Um dia destes apostei na edição dum livro que não deu resultado. Um amigo perguntou: "Quem decidiu publicar esse livro?" Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.

ISTO É - Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?
Shinyashiki -- O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas cederem a essa tirania e tentar evitá-las.

ISTO É -- Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Shinyashiki -- A sociedade quer definir o que é certo. São quatro Loucuras da sociedade. A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se ele não tivesse significados individuais. A segunda loucura é: Você tem de estar feliz todos os dias. A terceira é: Você tem que comprar tudo o que puder. O resultado é esse consumismo absurdo. Por fim, a quarta loucura: Você tem de fazer as coisas da forma correcta. Forma correcta não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade. Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz enquanto não casar, enquanto outros se dizem infelizes justamente por causa do casamento. Você pode ser feliz a tomar um sorvete, ficando em casa com a família ou com amigos verdadeiros, levando os filhos para brincar ou indo á praia ou cinema. Quando era recém-formado, trabalhei num hospital de pacientes terminais. Todos os dias morriam nove ou dez pacientes. Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte apanha o médico pela camisa e diz: "Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei a vida inteira, agora eu quero aproveitá-la e ser feliz". Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas. Ninguém na hora da morte diz arrepender-se por não ter aplicado o dinheiro em imóveis ou ações, mas sim de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida.


O nosso país tem um grande problema agrícola....
Excesso de nabos e falta de tomates.

Amor e plenitude


Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exacto. E, então, pude relaxar.
Hoje sei que isso tem nome...Auto-estima.

Quando me amei de verdade, pude perceber que a minha angústia, o meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra as minhas verdades.
Hoje sei que isso tem nome... Autenticidade.

Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.
Hoje sei que isso tem nome... Amadurecimento.

Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada.
Hoje sei que isso tem nome... Respeito.

Quando me amei de verdade, comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me atirasse para baixo. De início, a minha razão chamou essa atitude de egoísmo.
Hoje sei que isso tem nome... Amor próprio.

Quando me amei de verdade, desisti de querer ter sempre razão, e com isso, errei muito menos vezes.
Hoje sei que isso tem nome... Humildade.

Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de me preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece. Hoje vivo um dia de cada vez.
Hoje sei que isso tem nome... Plenitude.

Quando me amei de verdade, percebi que a minha mente me pode atormentar e decepcionar. Mas quando eu a coloco a serviço do meu coração, ela torna-se uma grande e valiosa aliada.
Hoje sei que isso tem nome... Saber viver.

Tudo tem sua ocasião própria, e todo propósito debaixo do céu tem o seu tempo.

Por isso, não fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois ele trará as suas próprias preocupações.


«Só gostava que algumas coisas ainda estivessem no sítio. E a alma e o coração não se ressentissem desta modernidade consumida a prestações, por conta de um futuro que não deixa saborear o tempo presente».

Modernidade
Conversa-se num telemóvel XPTO, terceira geração, câmara fotográfica, vídeo, Internet. Só lhe falta fazer café e vomitar faxes. Mas não tem rede nos sítios mais improváveis e ouve-se as pessoas como se estivesse noBangladesh.

Escreve-se num computador com memória de elefante e rapidez de fórmula 1 que, por capricho, bloqueia nas partes boas do texto e se estampa a arquivar o que preciso. Ignorante de pai e mãe, o bichinho tem o corta e cola e outras ferramentas de grande utilidade para os iletrados preguiçosos e analfabrutos de serviço.

Almoça-se uma sopa e um croquete ao balcão para pagar o carro, a casa, o ecrã plasma e o adolescente lá de casa que trocou a mesada pelo mensalão.

Lê-se (lê-se?) jornais giros, carregadinhos de suplementos e fascículos sobre o brinco através dos tempos ou outros coleccionáveis sobre as cuecas das misses. Também oferecem faqueiros, crucifixos, bolas de futebol,berlindes, panos de cozinha e atoalhados. Às vezes também têm notícias.Modernos que são, fecham a edição cedo. Normalmente depois dos telejornais das oito, não vá um camião desgovernado matar três pessoas na A1 ou um tresloucado varrer a família à sacholada, coisas que dão sempre boas notícias, como se sabe.

Os telejornais entretêm, os reality-shows são notícia.

Os jornalistas andam de avião, jogam golfe, dão entrevistas íntimas, mostram os filhos e cão. Jantam com o patrão, no crédito têm mais de um cartão.

As putas escrevem livros. Sim, as putas escrevem livros e há quem os publique.

Trocou-se a ética pela estética, a retórica pelo pensamento, a dedicação pela sabujice, o profissionalismo pelo amadorismo pavoneante.

A ignorância, a desfaçatez, o culto do umbigo, do eu e do meu, ensinam-se nas escolas e promovem-se nas empresas.

Cultiva-se o físico e a flacidez da mente.

Governa-se ao sabor da corrente com assessores, conselheiros, maquilhadores e chefes de gabinete.

Em Portugal, as putas já foram digníssimas senhoras de rua e boteco manhoso.

Os jornais fechavam tarde, de madrugada e davam notícias.

Os jornalistas já foram grandes comedores e bebedores, deitavam-se tarde e, mesmo assim, escreviam belas prosas.

Comia-se sentado e bebia-se com elevação.

Não publicava livros quem podia, mas quem sabia Escrever.

Lia-se a Maria e a Nova Gente, jornalismo rosa de referência antes de saber-se o que isso era.

Falava-se ao telefone com tempo, escreviam-se cartas aos amigos, aos amores.

A política tinha gente com nomes de peso. Agora pesa-nos até o nome dos políticos que temos.

Saudosista, eu? Não, nem por sombras. Só gostava que algumas coisas ainda estivessem no sítio. E a alma e o coração não se ressentissem desta modernidade consumida a prestações, por conta de um futuro que não deixa saborear o tempo presente.


Copyright 2008 | Paulo Reis