Viver não é uma experiência fácil, principalmente para aqueles que absorvem o mundo em si e sentem a urgência inevitável de devolvê-lo em forma de palavras, sons e cores ... Na realidade, começamos a morrer no momento em que nascemos, e viver é em última instância fatal. Cada momento que nasce é outro instante que morre. A partir desta compreensão não faz a mínima diferença se vivemos um dia ou cem anos, mas sim como experimentamos e sentimos ao máximo este mistério que somos nós. A existência pode ser curta ou longa, triste ou feliz, feia ou bela, uma interminável história de amor ou ódio.
Eu reconheço os meus sentimentos conturbados, na minha histeria silenciosa e escuto em mim diversas vozes. Existe aquela que me maltrata, julga e subjuga aos seus caprichos. Mas há também aquela que ama enlouquecida, indiscriminada e incondicionalmente, ela fortalece-me, levanta-me quando caio, faz ver a sua perspectiva, sempre mais ampla e mais vasta que a minha tragédia pessoal.
Se olharmos bem, profunda e intensamente, somos fragmentos de pessoas, lugares, ideias, valores, culturas, e a essência muitas vezes permanece encoberta até eventualmente descobrirmos que não somos nada daquilo ou talvez muito mais do que pensávamos ser.
Quão grande é o abismo entre aquilo que sonhamos e aquilo que efectivamente somos? Porque os sonhos são a vida, e a vida é feita de sonhos! Uma relação, este texto, e este mundo, tudo isto um dia saiu dos sonhos humanos e foi materializando-se gradualmente, formando este imenso quebra-cabeças do qual somos minúsculos fragmentos. Somos actores dum grande sonho colectivo, uma mega peça de teatro, quer o percebamos ou não.
Este lugar, este tempo, aqui e agora, este é o momento de viver. Não existe nada além disso. O próximo momento é um enigma, um salto no escuro, uma probabilidade que pode vir a acontecer ou não, é o repentino silêncio de todos aqueles que estão desaparecendo neste preciso minuto.
É preciso reaprender a sonhar. Trata-se de uma arte que exige técnica, e geralmente são necessários anos de estudo para atingir a mestria.
Existem os mestres desta arte, aqueles que acreditaram nos sonhos, escutaram, observaram, sentiram, lutaram por eles, e realizaram-nos, inspirando gerações de sonhadores inexperientes. Eles contam-nos que começamos a vida a sonhar naturalmente, depois crescemos e esquecemos, e mais tarde cabe-nos a nós voltar ou não a este conhecimento inato, reconquistá-lo, redefini-lo, reinventá-lo! Mas embora sonhadores ainda existam e ensinem os seus pupilos, e ainda que muitos tenham transformado as instruções desta arte numa sabedoria oculta transmitida de mestre para aluno, ainda assim não é possível escrever um manual, um livro, uma enciclopédia sobre como sonhar.
Houve quem tentasse definir os sonhos, explicá-los, limitá-los a certos fenómenos biológicos ou psicológicos que acontecem durante o sono, ou então houve aqueles que compararam os sonhos à morte e à vida, e a tudo aquilo que nunca se conseguiu explicar. Para quem já viajou no mundo dos sonhos, é um facto que eles transcendem a nossa compreensão racional.
Somos conscientes de apenas uma pequena fracção do dia. Passamos a maior parte do tempo em piloto automático, numa zona mentalmente confortável para nós, semelhante a um transe. Acordamos, escovamos os dentes, olhamos ao espelho, realizamos passo a passo um ballet minuciosamente coreografado durante anos que chamamos de rotina. Somos tão talentosos que nem percebemos que estamos a actuar neste filme dirigido por nós mesmos. As decisões que tomamos no dia a dia fazem parte desta farsa, são apenas pequenos ajustes.
Sonhar está nos caminhos! Nós pensamos que sabemos aonde eles nos levam, e que temos o controle porque um dia escolhemos o destino e assim perdemos a oportunidade de experimentar. E se o mundo inexplorado que pensamos, sonhamos e fantasiamos realmente existisse? E se de repente, num momento de distracção, escorregássemos nas nuvens de nossa imaginação e caíssemos numa dimensão paralela, feita de todos os pensamentos, ilusões, imagens, e loucuras da mente humana? E se a ciência descobrisse que este espaço de facto existe, e que é apenas uma de múltiplas e infinitas dimensões matematicamente e fisicamente tão comprováveis como esta, e que todas elas de alguma complexa forma fizessem parte daquele sonho colectivo que chamamos de realidade? Será que levaríamos mais a sério os nossos devaneios?
A minha sugestão para todos aqueles que chegaram até aqui, e quiserem continuar nesta viagem, que façam um pacto consigo mesmos, e dêem um passo diário no desconhecido. Arrisquem o compromisso para com os sonhos. Observem o que está a acontecer dentro e fora do vosso corpo. Aceitem a dor, a loucura, e a beleza dos instantes. Chorem ou riam. Estejam prontos para mudar todas as ideias preconcebidas sobre a vida, se for necessário. A qualidade dos dias irá transformar-se. Repentinamente irão perceber que estão a sonhar acordados, e que os vossos sonhos são vocês.
My head knocks against the stars.
My feet are on the hilltops.
My finger-tips are in the valleys and shores of universal life.
Down in the sounding foam of primal things
I reach my hands and play with destiny.
I have been to hell and back many times.
I know all about heaven, for I have talked with God.
(Carl Sandburg)
Esta música tem algo de mágico e transmite uma sensação de paz abosluta!